Ciência
02/09/2023 às 10:00•2 min de leitura
Dormir não é apenas uma parte muito gostosa do nosso dia. Sem o sono adequado, nosso corpo e mente adoecem — ou podem sofrer graves problemas. Um estudo de 2019 revelou que a falta de sono estava relacionada a mais de 40% dos acidentes de trânsito brasileiros.
Ainda que as pessoas consumam substâncias estimulantes, como café ou energéticos, é fato que em algum momento precisarão parar para tirar um cochilo.
Mas pesquisadores da Universidade de Ohio podem estar perto de criarem uma droga que elimine os impactos negativos que a falta de sono tem em nosso organismo, sem que isso prejudique a capacidade de atenção e foco das pessoas — e a resposta para isso está nos astrócitos.
Astrócitos alimentam os neurônios. Fonte: Getty Images
Quando falamos em células que atuam no sistema nervoso, é quase inevitável que lembremos dos neurônios, mas existem outras células trabalhando para o bom funcionamento do nosso cérebro, como os astrócitos.
Os astrócitos têm muitas funções em nosso organismo, como a nutrição dos neurônios, mas essas células têm outras demandas — e algumas delas ainda podem estar sendo descobertas.
Os pesquisadores conseguiram ativar os astrócitos de ratos de laboratório e isso fez com que os animais ficassem acordados por cerca de seis horas, mesmo já sendo um horário em que eles deveriam estar dormindo.
Os animais ainda não apresentaram danos colaterais depois que o efeito da experiência acabou. Eles dormiram normalmente em seu horário habitual, sem demonstrarem estar mais cansados que o normal ou precisando repor horas de sono perdidas.
O estudo concluiu que a nossa necessidade de dormir pode estar diretamente relacionado com essas células cerebrais. “Podemos agora começar a identificar como os astrócitos interagem com os neurônios para desencadear esta resposta e como eles impulsionam a expressão e regulação do sono em diferentes partes do cérebro” afirma Ashley Ingiosi, professora assistente de neurociência na Universidade Estadual de Ohio e uma das autoras do estudo.
Agora, os pesquisadores pretendem continuar estudando o comportamento das cobaias para que, quem sabe um dia, iniciem testes em voluntários humanos e verifiquem se a ausência de necessidade de sono também ocorre nas pessoas.
Pesquisadores da USP também estão estudando essas células. Fonte: Getty Images
No início deste ano, pesquisadores do Centro de Pesquisa em Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma), da Universidade de São Paulo, publicaram um artigo mostrando que é possível melhorar a cognição de camundongos usando a regulação do mecanismo de glicose dos astrócitos. A descoberta foi publicada na revista científica Journal of Neurochemistry.
“Em geral, quando escutamos algo sobre o cérebro, é natural pensarmos logo nos neurônios, as células que transmitem os impulsos elétricos. De fato, a literatura é muito centrada em neurônios. Mas existem vários outros tipos celulares no cérebro, principalmente as chamadas células da glia, das quais os astrócitos fazem parte, que são igualmente importantes”, explica o pesquisador João Victor Cabral-Costa à Agência Fapesp.