Estilo de vida
09/09/2020 às 13:30•3 min de leitura
Na última terça-feira (8), a expectativa de lançamento de uma vacina eficiente contra o novo coronavírus recebeu um duro golpe, estampado em manchetes do mundo todo. Com encomendas de ao menos 2,94 bilhões de doses, realizadas por diversos países, e já no último estágio de testes, a companhia farmacêutica AstraZeneca e pesquisadores da Universidade de Oxford anunciaram uma pausa nos experimentos realizados com substância em desenvolvimento. Estados Unidos, África do Sul, Brasil e Reino Unido foram afetados por "eventos adversos" não detalhados ocorridos com um voluntário. Entretanto, o que dizem os especialistas a respeito do assunto?
"Espero que não esteja relacionado com a vacina, já que ela pareceu promissora até o momento", declara Florian Krammer, virologista da Icahn School of Medicine, Nova York. Isso porque, primeiramente, é preciso identificar se o paciente em questão recebeu o imunizador ou o placebo e qual é a origem de suas manifestações, um processo de investigação que já está em andamento e algo que a própria responsável pelos estudos considera "uma ação de rotina que deve acontecer sempre que houver uma doença potencialmente inexplicada em um dos ensaios."
Infelizmente, é preciso considerar o pior cenário. "[Se a ocorrência] estiver definitivamente, ou mesmo provavelmente, conectada [com a vacina], este pode ser o fim da candidata. Caso contrário, o bloqueio pode ser retirado em questão de semanas", explica Marie-Paule Kieny, pesquisadora do INSERM, instituto nacional francês de pesquisa em saúde em Paris.
"O controle clínico mostra que existem controles e equilíbrios de funcionamento, apesar da pressão política, o que lembra a todos, mesmo presidentes, que, para as vacinas, segurança é primordial", complementa. O problema é que, como não se sabe exatamente o que ocorreu, não há como mensurar os reais impactos da situação.
Investigações aprofundadas estão sendo realizadas.
No Brasil, a vacina de Oxford está sendo testada em cerca de 5 mil pessoas, experimento que foi iniciado em junho e é coordenado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Existe um acordo entre o governo e a AstraZeneca que garante acesso a 100 milhões de doses, das quais 30 milhões seriam entregues entre dezembro e janeiro e 70 milhões ao longo dos dois primeiros trimestres de 2021. O contrato ainda não foi firmado.
Nesta manhã (9), o ministro britânico da Saúde Matt Hancock, em entrevista à SkyNews, afirmou que o caso é "obviamente um desafio. Mas, na verdade, não é a primeira vez que isso acontece e é um processo normal em testes clínicos", se referindo à primeira paralisação dos estudos, algo confirmado por fontes à revista Nature. Na ocasião, investigações detalhadas mostraram que o indivíduo foi diagnosticado com uma "doença neurológica não relacionada [à vacina]."
A falta de transparência quanto à notícia é uma preocupação de Paul Komesaroff, médico e bioeticista da Monash University, Austrália. "Os testes são todos apoiados publicamente, a doença é a maior ameaça à humanidade em 100 anos, os processos de desenvolvimento de drogas são altamente politizados e o resultado só será bem-sucedido se a confiança pública puder ser garantida e mantida", salienta.
Impactos só serão conhecidos com a divulgação de detalhes do evento.
Agora, a maior dificuldade está em desvendar o que ocorreu. "Isso pode ser difícil de descobrir", diz Jonathan Kimmelman, bioeticista que estuda ensaios clínicos na Universidade McGill, Canadá. Caso o comitê designado à tarefa seja bem-sucedido, só a partir daí é que saberemos o futuro da candidata. De qualquer forma, a prioridade é manter o voluntário seguro e recebendo o melhor tratamento médico possível, defende Kimmelman.
Por fim Paul Griffin, pesquisador de doenças infecciosas da Universidade de Queensland, Austrália, está confiante, já que, segundo ele, o "evento adverso" pode incluir o registro entrada de um participante em um hospital por qualquer motivo que seja, o que é amparado por protocolos de segurança. "Tenho plena confiança de que o grupo designado avaliará rapidamente a situação e tornará públicos os resultados da investigação."
Vacina de Oxford: cientistas se posicionam a respeito da paralisação via TecMundo