Artes/cultura
26/10/2020 às 14:00•2 min de leitura
Para as abelhas, espécie cuja extinção ameaça a polinização de culturas, um dos fatores mais importantes para a sobrevivência é a segurança das colmeias. Para isso, é vital que elas sejam capazes de distinguir entre uma companheira de sociedade e um invasor.
Uma pesquisa publicada recentemente pela Universidade de Washington, em Saint Louis, revelou que as abelhas confiam mais em pistas químicas produzidas por suas comunidades microbianas intestinais compartilhadas do que no simples parentesco genético, para identificar os membros da colônia.
Segundo um dos autores do projeto, o professor de biologia Yehuda Ben-Shahar, não é apenas a genética da abelha-rainha que é importante, como muitos acreditam. Para o pesquisador: “O que mostramos é que é genético, mas é a genética da bactéria”.
Os membros de uma mesma colônia de abelhas geneticamente relacionados desenvolvem perfis de pele conhecidos como hidrocarbonetos cuticulares (CHC) específicos da colmeia, que funcionam como pistas de reconhecimento de companheiros feromonais de ninho.
O que o novo estudo descobriu foi que o perfil particular de CHC de uma abelha é dependente do seu microbioma, ou seja, aquelas bactérias que compõem a sua comunidade microbiana intestinal. Outra descoberta, igualmente inédita, é de que diferentes colônias têm microbiomas específicos para cada uma.
A relevância da pesquisa é mostrar o papel fundamental do microbioma intestinal nas interações sociais cotidianas essenciais das abelhas. Essa identificação é importantíssima no processo de defesa da colmeia, principalmente contra o seu maior inimigo: outras abelhas.
Coautora do projeto, a pós-doutoranda Cassondra L. Vernier explica que quando chega o outono no Hemisfério Norte, e as plantas param de produzir o néctar, ocorre um fenômeno muito comum: as abelhas-ladras.
Essas abelhas, que são mais meliantes do que melíferas, conseguem passar pelos soldados para roubar mel, pólen, alimento das larvas e até cera. Quando voltam para os seus próprios ninhos carregadas com suas pilhagens, sinalizam para as colegas que aquela colmeia que visitaram tem vigilância fraca e que pode ser invadida facilmente.
Esse tipo de roubo, que priva as abelhas hospedeiras e suas bactérias associadas de recursos importantes, pode ter sido a motivação original para que fosse estabelecida essa parceria especial entre a bactéria e o inseto, dizem os pesquisadores.