Efeito Dunning-Kruger: quando incompetentes se acham inteligentes

30/10/2022 às 05:003 min de leitura

Excesso de confiança, falta de reconhecimento de seus próprios erros ou de reconhecer a habilidade e experiência genuínas de outras pessoas; superestimação dos próprios níveis de habilidade; supervalorização da própria confiança a ponto de preferir fingir ser inteligente ou habilidosa do que arriscar parecer inadequada e perder o prestígio.

Esses são alguns sintomas de quem sofre do fenômeno conhecido como Efeito Dunning-Kruger, um conceito determinado pelos psicólogos David Dunning e Justin Kruger, da Universidade de Cornell, em uma pesquisa elaborada em 1999.

O conceito surgiu depois que a dupla testou um grupo de participantes em sua lógica, gramática e senso de humor; concluindo que aqueles que demonstraram um desempenho no quartil inferior, classificaram as próprias habilidades muito acima da média. Os autores do estudo atribuíram essa tendência a um problema de metacognição – a capacidade de analisar os próprios pensamentos ou desempenho.

“Aqueles com conhecimento limitado em um domínio sofrem um fardo duplo: não apenas chegam a conclusões equivocadas e cometem erros lamentáveis, como também sua incompetência lhes rouba a capacidade de realização das tarefas”, escreveram.

Os especialistas em nada

(Fonte: Sprouts Schools/Reprodução)(Fonte: Sprouts Schools/Reprodução)

De maneira prática, o Efeito Dunning-Kruger funciona da seguinte forma: um grupo de amigos decide aprender algo novo, como inglês. Em alguns dias, um deles consegue falar de 10 a 15 frases, e fica um pouco desapontado com o próprio progresso, porque acha que deveria ser capaz de falar mais do que isso. Mas para ele, a língua é muito simples, e ter um bom domínio sobre ela faz com que ele pense que é simples para todos e que, portanto, deveria ter feito mais.

Por outro lado, um dos outros aprendeu apenas algumas palavras, e ficou surpreso com seu progresso. Ele não tem o conhecimento e as habilidades para saber o que está pronunciando e se está usando essas palavras de maneira errada. Ele foi o que menos aprendeu no grupo, porém, sua falta de conhecimento o impede de entender os próprios erros.

Além disso, sua falta de acesso à comparação faz com que ele superestime sua capacidade relativa. Sua ignorância de quão longe os outros chegaram, faz que ele pense que está se destacando, mas, na verdade, está aprendendo a uma velocidade abaixo da média.

Segundo o Psychology Today, essa tendência pode ocorrer porque obter uma pequena quantidade de conhecimento em uma certa área sobre a qual se desconhecia pode fazer com que as pessoas se sintam subitamente especialistas. Isso se dá também porque se destacar em algo considerado desafiador para si mesmo, pode alcançar a crença de que isso é onde estão suas habilidades e talentos.

(Fonte: Say It Better/Reprodução)(Fonte: James Joyce/Reprodução)

O efeito provoca um desapontamento da pessoa com os demais ao seu redor quando seus auto-reconhecidos “talentos” não são percebidos por eles. Portanto, não é improvável que a pessoa acredite que mereça tanto uma futura promoção no trabalho, por exemplo, e se mostre surpresa a ponto de indignação quando não a recebe.

O estudo de Dunning e Kruger sugeriu que as pessoas incompetentes não demonstram apenas um baixo desempenho, mas também são incapazes de avaliar e reconhecer com precisão a qualidade do próprio trabalho. E traços do efeito podem surgir de maneira mais simples, como um aluno que acredita que merecia uma nota muito mais alta em um trabalho que entregou.

A política dos menos inteligentes

(Fonte: The Conversation/Reprodução)(Fonte: Willrow Hood/Shutterstock)

No contexto social, o fenômeno se apresenta indicando que os cidadãos mais desinformados são aqueles mais confiantes. Esse perfil se mostra mais resistente a ser ensinado e carrega uma ignorância extrema devido a isso, pois acredita que saiba mais. Normalmente, é comum que essas pessoas disseminem com mais facilidade informações falsas, as famosas fake news.

Ou seja, o efeito Dunning-Kruger se manifesta em sua essência: não na falta de informação, mas na abundância de desinformação. Quando um indivíduo não sabe nada, a informação errada é sempre a que o leva a pensar que sabe de tudo.

Consequentemente, em nível global ou nacional, esse comportamento evoca consequências perigosas, considerando que o mundo está em um período político delicado, sobretudo, após a pandemia do coronavírus, em que a ciência foi absorvida por vieses políticos por muitas pessoas e compartilhada como uma ameaça, em vez de salvação.

(Fonte: The Indian Express/Reprodução)(Fonte: Express Illustration/Reprodução)

Em meio a isso, existe um desiquilíbrio de autoconsciência muito grande na sociedade. Os menos informados são os que se consideram mais aptos para tentar influenciar a opinião dos outros; enquanto os pouco informados se desvinculam das discussões porque não acreditam ser contribuintes dignos para pautas políticas ou mundiais; e os especialistas, por sua vez, evitam educar o público, em sua maioria, porque não percebem a raridade de sua experiência e a necessidade dela.

Isso nos leva a fala de Charles Darwin em seu A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo: “A ignorância gera mais confiança do que o conhecimento”.

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