Ciência
23/08/2023 às 08:00•2 min de leitura
Por aproximadamente 400 anos, um grupo indígena que vivia no Japão ficou conhecido por deformar os crânios de seus filhos de maneira consciente, é o que sugere um novo estudo publicado na PLOS One. Os hirota, como eram chamados, residiam na ilha de Tanegashima, no sul do país, entre o final do período Yayoi e o período Kofun (séculos III e VII).
De 1957 a 1959 e posteriormente de 2005 a 2006, pesquisadores escavaram vários esqueletos de um sítio arqueológico hirota em Tanegashima, o que levou a descoberta de números impressionantes de crânios deformados. Conheça mais sobre essa curiosa história ao longo dos próximos parágrafos!
(Fonte: Seguchi Lab/Kyushu University)
Antes de análises mais aprofundadas, os pesquisadores não tinham certeza se os crânios encontrados em Tanegashima haviam sido deformados por conta de um processo natural desconhecido ou deliberadamente deformados por meio de um processo chamado de deformação craniana artificial (ACD), que normalmente envolve pressionar o crânio de uma criança para mudar seu formato logo após o nascimento.
Ao comparar os crânios do povo hirota com os restos morais de outros japoneses do mesmo período, os cientistas chegaram a conclusão de que é muito mais provável que o processo de deformação tenha sido intencional. Todos os restos mortais encontrados na região foram alterados para criar uma cabeça ligeiramente encurtada com a parte traseira do crânio achatada.
Como um número igual de restos mortais masculinos e femininos foram deformados, é possível constatar que essa era uma tradição feita com ambos os sexos. Deformações semelhantes não foram observadas entre os crânios Yayoi ou Jomon, o que indica que esse era um processo bem distinto dos hirota.
(Fonte: The Kyushu University Museum)
Até agora os pesquisadores não possuem uma opinião concreta do porquê o povo hirota escolheu alterar os crânios de seus bebês. Uma das possibilidades mais cogitadas é que isso os ajudou a se distinguir de outros grupos, afirmaram os cientistas em comunicado oficial. Como próxima etapa, a equipe planeja examinar de perto os crânios deformados mais arcaicos da região para obter mais informações.
“Embora a motivação da prática não seja clara, o povo hirota pode ter deformado seus crânios para preservar a identidade do grupo e possivelmente ajudar no comércio de frutos do mar a longa distância”, destacou o principal autor do estudo, Noriko Seguchi.
Evidências de ACD foram descobertas em diversos grupos étnicos ao longo da história humana, incluindo hunos, mulheres europeias medievais, maias e tribos nativas americanas. No passado, alguns desses restos mortais até mesmo foram mal interpretados como evidências da existência de alienígenas.
Hoje em dia, práticas de ACD ainda acontecem ao redor do planeta, sobretudo na nação de Vanuatu, no Pacífico. Os membros desse povo têm seus crânios deformados para parecerem mais semelhantes a uma de suas divindades, retratada com uma cabeça alongada. Em raras ocasiões, algumas meninas da República Democrática do Congo também enfrentam o alongamento craniano como símbolo de status.