Ciência
21/09/2023 às 11:00•2 min de leitura
Nosso organismo é capaz de desempenhar uma série de funções importantes, regulando, por exemplo, a concentração de água e de nutrientes. Para o nosso alívio, ele também atua produzindo substâncias que nos ajudam a relaxar e lidar melhor com as complicações do dia a dia.
E não estamos falando da dopamina, liberada quando praticamos atividade física, ou da endorfina, que entra em ação quando ouvimos música ou comemos um doce, mas sim de moléculas canabinóides, semelhantes ao tetrahidrocanabinol (THC). Apesar delas terem fama por serem extraídas das plantas do gênero Cannabis, a verdade é que elas se apresentam de outras formas na natureza.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Isso porque cientistas já descobriram que os humanos produzem essas moléculas sob demanda, os chamados canabinóides endógenos. Uma vez estimulados por receptores específicos, diversos processos ocorrem, inclusive quando estamos estressados. E já adiantamos: o mesmo vale para muitos outros animais vertebrados, incluindo ratos.
Por conta disso, pesquisas sobre a atuação dos canabinóides endógenos nos roedores são consideradas importantes para compreender melhor como esses mecanismos se desenvolvem a nível molecular.
(Fonte: Getty Images)
Para avançar nesse sentido, pesquisadores da Northwestern University, nos Estados Unidos, conduziram um estudo pré-clínico em ratos para avaliar como esses animais reagem quando estão sob estresse.
Na primeira fase, eles observaram que moléculas canabinóides eram liberadas na amígdala em ratos que estavam vivenciando situações de estresse variadas. A partir disso, esses compostos obtidos naturalmente atenuaram os sinais de estresse emitidos no hipocampo cerebral.
Ou seja, essa função reduzia os efeitos negativos do estresse na região do cérebro que está ligada à memória e à emoção. Isso significa que essa resposta natural fornece um efeito protetor, e ajuda a explicar, portanto, como se dá o processo de adaptação em uma situação desagradável.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
E aí entra a parte intrigante: para provar a importância dessa reação no cérebro, ao desativar os receptores canabinóides (CB1) nos cérebros dos animais, algumas mudanças ficaram evidentes.
Os ratos apresentaram uma menor capacidade de lidar com o estresse, permanecendo com um comportamento mais passivo. Inclusive, como consequência disso, eles passaram a procurar menos a água adoçada com sacarose, o que foi considerada como uma possível perda da busca pelo prazer.
Curiosamente, este é um comportamento que pode ser observado em pessoas acometidas por algum transtorno associado ao alto nível de estresse, e tem nome: anedonia. Mas, embora não seja possível provar ainda que nos comportamos dessa forma exatamente por esse motivo, o estudo apresentou um novo ponto de partida para futuras investigações.
Por mais que seja interessante saber como o corpo atua produzindo moléculas quando necessitamos, ao considerar ainda a mudança no comportamento dos roedores, uma nova hipótese passa a ser considerada: que falhas nessa sinalização com os receptores poderiam ter relação, ou mesmo representar uma maior tendência ao desenvolvimento de transtornos de humor variados, como a depressão.
Para Sachin Patel, um dos autores desse estudo, "determinar se níveis crescentes de canabinóides endógenos podem ser usados como terapia para distúrbios relacionados ao estresse é o próximo passo". Ele acredita que os ensaios clínicos nessa área, que estão investigando essa hipótese, deverão sanar muitos questionamentos futuros.