"Bolhas de meleca": conheça as salpas, vitais na ecologia marinha

Um dos animais marinhos mais abundantes no mundo, as salpas continuam relativamente pouco conhecidas, além de serem injustamente associadas a apelidos depreciativos como “bolas de gelatina” ou “baldes de meleca”. Outra confusão frequente é associá-las às águas-vivas que, apesar de também gelatinosas, têm uma biologia e ecologia diferentes.

Enquanto as águas-vivas são cnidários, as salpas são tunicados, parentes dos vertebrados e não portadoras das células que causam queimaduras em banhistas.  Elas têm o corpo cilíndrico e transparente, e se locomovem por propulsão jato. Enquanto filtram partículas de alimentos, as salpas se contraem ritmicamente e expulsam a água por uma abertura atrial, 

Além de sua classificação biológica, elas também são consideradas zooplânctons durante parte de suas vidas, quando flutuam livremente na coluna d'água e são arrastadas pelas correntes oceânicas. Salpas são os animais multicelulares com crescimento mais rápido da Terra, atingindo sua maturidade em apenas 48 horas, e aumentando seu crescimento em 10% por hora.

Reprodução das salpas: machos se transformam em fêmeas

Por ter um ciclo de vida relativamente curto, as salpas tiveram que desenvolver uma estratégia reprodutiva que permitisse uma multiplicação rápida, feita de forma assexuada, mas que continuasse preservando sua diversidade genética. Por isso, alternam ciclicamente para a reprodução sexuada, conforme fatores ambientais, como densidade populacional e disponibilidade de nutrientes,

Na fase assexuada, uma salpa sozinha consegue se reproduzir por brotamento, formando longas correntes de clones. A fase é ideal para quando existe grande disponibilidade de alimento no ambiente. Essas correntes se desenvolvem em blastozoides que se reproduzem sexuadamente, atuando como hermafroditas sequenciais.

A princípio, a cadeia inteira é de machos, que produzem espermatozoides, mas, depois de um período, esses blastozoides se tornam fêmeas e produzem ovos. Essa alternância de sexo (protandria) faz com que a fertilização aconteça dentro da mesma corrente de salpas, pois o espermatozoide liberado pelos blastozoides mais jovens fertiliza os óvulos dos blastozoides mais velhos. 

Salpas reduzem o CO₂ da atmosfera terrestre

Seja na superfície do oceano ou a 800 metros de profundidade, as salpas desempenham um papel vital na saúde dos oceanos. Elas são eficientes filtradoras de água, alimentando-se de fitoplâncton e outras partículas orgânicas. 

Ao fazer isso, elas ajudam a manter o equilíbrio ecológico, removendo grandes quantidades de carbono da água e transferindo-o para as profundezas do oceano, tanto em suas fezes densas que afundam rapidamente na coluna d'água, como em seus corpos, quando encerram suas breves vidas.

Um enxame de salpas espalhadas por uma área de 100 mil quilômetros quadrados consegue capturar, em uma única noite, cerca de 4 mil toneladas de CO₂. Esse processo de sequestro de carbono é importante na mitigação das mudanças climáticas, pois reduz a quantidade de dióxido de carbono no sistema de circulação superficial oceano-atmosfera.