Pesquisadores identificam novas espécies animais em ecorregião da África

Engana-se quem pensa que o continente africano não é rico em biodiversidade. Na sua porção sudeste, por exemplo, há muitas espécies que consagram a África como um tesouro mundial. No entanto, o desmatamento dessa região ameaça não só a vida dos animais, como também a possibilidade de que pesquisadores os conheçam.

Acredita-se que em uma área em particular, denominada como SEAMA (South East Africa Montane Archipelago, em inglês) sejam encontradas pelo menos 217 espécies endêmicas, que não existem em nenhum outro lugar do planeta. Isso foi especialmente percebido entre grupos de animais anfíbios, répteis, mamíferos, caranguejos e borboletas, mas também entre plantas, que correspondem a 127 espécies dentro desse total.

Um refúgio para diversas espécies endêmicas

Ao se aprofundar em detalhes, fica mais fácil ver como essa região apresenta uma rica biodiversidade: dentre as borboletas, por exemplo, 30 das 39 espécies existentes são estritamente endêmicas. E desse total, 75% delas podem ser encontradas apenas nas florestas — o que significa dizer que sua sobrevivência é ameaçada pelo desmatamento e pela expansão agrícola.

O mesmo vale para sete dos onze anfíbios analisados, que estão listados como ameaçados de extinção. Já entre os seis tipos de caranguejos-de-água-doce estudados, dois deles não haviam sido descritos até então. Ou seja, algumas das espécies relacionadas, consideradas novas, também estão mencionadas neste estudo inédito, publicado na Scientific Reports.

Essa grande área, imersa por montanhas em uma paisagem exuberante, é fragmentada por bolsões isolados — daí o motivo deles serem comparados a arquipélagos. Mesmo nos períodos mais secos, eles apresentam chuvas elevadas, quando em comparação com outros locais, o que contribui para que a cobertura vegetal se mantenha mais úmida ao longo do ano.

Após duas décadas de investigações, os mais de 100 pesquisadores envolvidos nesse trabalho ainda chegaram a um consenso: se o espaço detém essas particularidades e abriga uma gama tão impressionante de espécies animais e vegetais, ele merece ser reconhecido como uma ecorregião.

Espécies são ameaçadas de extinção

Partindo da constatação que um quinto da cobertura florestal se perdeu durante esses últimos anos, o conceito de ecorregião se mostra importante para que ações de preservação ambiental sejam postas em prática. Em alguns locais, vale destacar, essa perda alcançou os 43%, ou seja, corresponde a uma das taxas de desmatamento mais elevadas da África.

Julian Bayliss, professor na Oxford Brookes University e um dos autores do estudo, explica como esse processo ocorreu: “Foram necessárias décadas de colaboração internacional para reunir evidências suficientes para definir a ecorregião."

"Documentamos centenas de espécies anteriormente não descritas e pesquisamos a geologia, o clima e a história genética dos ecossistemas, para descobrir o que torna estas montanhas tão únicas. Esta nova ecorregião criará uma plataforma importante, e a partir dela serão desenvolvidas iniciativas regionais de conservação.”

Enquanto espécies de répteis foram mais exploradas nas pesquisas, mamíferos de menor porte não foram alvo de estudos mais aprofundados. Ou seja, ainda existe a possibilidade que, futuramente, mais espécies se tornem conhecidas à medida que os estudos prosseguirem por lá.