Ciência
18/09/2023 às 02:00•3 min de leitura
No começo deste ano, uma influenciadora americana chamada Mary Magdalene se submeteu a um procedimento estético para mudar a cor dos seus olhos. Mary é famosa pelas cirurgias plásticas e já teria gastado US$ 100 mil em suas operações.
Muita gente ficou surpresa ao descobrir que é possível alterar a cor dos olhos sem recorrer às já conhecidas lentes de contatos. Um dos processos mais usados para esse tipo de alteração se chama ceratopigmentação.
A ceratopigmentação é um procedimento estético, muito realizado nos olhos de pessoas cegas com o objetivo reduzir a coloração branca da córnea. Esse procedimento também é indicado quando o paciente sente desconforto com as lentes de contato ou quando não deseja implantar uma prótese ocular. É como se o médico tatuasse o olho do paciente.
(Fonte: Getty Images)
Os primeiros registros de pinturas na córnea datam de mais de dois mil anos atrás e teriam sido feitos por Galeno, filósofo e médico da antiguidade. Ele cauterizava a córnea e depois a tingia com tinta a base de ferro ou casca de romã.
Mais tarde, no século XIX, o médico Louis de Wecker desenvolveu um método de pintura mais eficiente, que influenciou os subsequentes. Ele usava tinta importada da China e pintava a córnea por meio de micropulsões.
Atualmente, os médicos recorrem a uma das três técnicas mais utilizadas de ceratopigmentação: micropunção estromal, dupla bolsa lamelar e femtosecond-assisted keratopigmentation (FAK). A FAK se destaca pelos bons resultados, porém seu custo ainda é considerado alto.
Os estudos relacionados a essas técnicas ainda são recentes. No Brasil, os pesquisadores focam em pesquisas de ceratopigmentação voltadas a pacientes cegos, ignorando o uso estético por pessoas que enxergam e querem apenas mudar a cor dos olhos.
Isso porque a cirurgia pode trazer complicações aos pacientes. O estudo brasileiro, publicado em 2022, analisou 204 pacientes submetidos a ceratopigmentação. Nele, 12,82% tiveram alguma complicação após a cirurgia, sendo a sensibilidade à luz a mais comum (49%).
Ainda assim, os pesquisadores concluíram que esse procedimento é seguro. “Nesta série de casos, a ceratopigmentação corneana mostrou-se uma abordagem segura, pouco dolorosa e com resultados satisfatórios e duradouros”, conclui o estudo desenvolvido pelo Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa em Oftalmologia (IPEPO).
É importante esclarecer que nem toda tatuagem no olho é segura como a ceratopigmentação, mas algumas pessoas ainda decidem tatuar a parte branca da esfera do olho. Uma reportagem do jornal Estado de Minas mostrou que o custo para esse procedimento, que não é feito por médicos, é de cerca de R$ 1.000. Trata-se de uma tatuagem definitiva que pode danificar a visão do indivíduo.
Apesar de desaconselhado pelos oftalmologistas, esse tipo de tatuagem não é proibida e nem considerada um procedimento médico, ao contrário da ceratopigmentação, que só pode ser feita por médicos especialistas.