Ciência
16/07/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 16/07/2024 às 18:00
Um estudo recente, conduzido por pesquisadores da Universidade de Copenhague e publicado na renomada revista Science, revelou uma descoberta revolucionária sobre as enxaquecas. A pesquisa identificou uma nova rota, até então desconhecida, entre o cérebro e os nervos periféricos, oferecendo informações importantes sobre como as auras estão conectadas às dores de cabeça intensas que caracterizam essa condição debilitante.
Os cientistas sempre souberam que as auras estão associadas à depressão cortical disseminada, caracterizada por ondas de atividade anormal no cérebro que inativam temporariamente neurônios específicos. Essas ondas parecem desencadear os nervos detectores de dor fora do cérebro, por meio da liberação de substâncias químicas no líquido cefalorraquidiano (LCR). No entanto, como esses produtos químicos atingiam os nervos era desconhecido.
No novo estudo, os pesquisadores utilizaram camundongos geneticamente modificados, cujos neurônios brilham na presença de cálcio, para rastrear o fluxo do LCR. Eles descobriram que o LCR pode transportar moléculas para fora do cérebro através do gânglio trigeminal, um conjunto de células que transmite sinais dos nervos da face e mandíbula para o cérebro.
Além disso, eles observaram que durante a aura as proteínas que podem ativar e sensibilizar os nervos sensoriais são liberadas no LCR e transportadas para o gânglio trigeminal, onde ativam os nervos sensoriais mediadores da dor. Essa descoberta liga diretamente a fase de aura à dor de cabeça da enxaqueca.
Das proteínas identificadas como ativadoras dos nervos sensíveis à dor, apenas uma — o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) — é alvo das atuais terapias para enxaqueca. Embora medicamentos que bloqueiam o CGRP aliviem os sintomas em metade dos pacientes, milhões continuam sem tratamento eficaz. A descoberta de novas moléculas responsáveis pela dor de cabeça pode abrir novas opções terapêuticas.
Os pesquisadores acreditam que identificar essas moléculas pode levar ao desenvolvimento de novos tratamentos para pacientes que não respondem bem às terapias atuais. Esse novo caminho para a entrega de moléculas do cérebro para os gânglios periféricos pode ter relevância além das enxaquecas, potencialmente beneficiando outras condições de dor de cabeça.
Apesar das descobertas promissoras, todos os experimentos foram realizados em camundongos, cujo cérebro é muito mais liso em comparação com o cérebro humano. As ondas anormais ligadas à enxaqueca podem não viajar tão eficientemente no nosso organismo, afetando a rapidez com que o LCR flui para fora do cérebro e se ativa ou não os nervos sensíveis à dor. O próximo passo será examinar esses processos em humanos ou em animais mais semelhantes à nossa fisiologia.