Ciência
16/12/2022 às 11:00•2 min de leitura
Quem se lembra da cena do filme Lua Nova, em que a personagem Bella Swan, ao receber um presente de aniversário da família do seu namorado vampiro, abre a embalagem e se corta com o papel? Os momentos seguintes ficaram marcados na mente dos fãs ao redor do mundo: muito sangue e uma confusão familiar digna de um episódio de Casos de Família. E tudo por conta de um corte de papel.
Esse bendito machucado, além de provocar um caos na vida da família vampiresca, também traz arrepios na vida real. Quem nunca se cortou com o papel e ficou pensando no motivo do corte doer tanto? E não é qualquer dor, é aquela que incomoda a cada toque, banho, e até em repouso o dedo não deixa de estar dolorido. Quer saber por que esse corte minúsculo dói tanto? Continue a leitura que a gente te conta!
(Fonte: Thinkstock)
O motivo de tanta dor é muito simples. As nossas mãos são incrivelmente sensíveis à dor e as bordas dos papéis são surpreendentemente irregulares. Essa terrível combinação é a principal causa do nosso sofrimento. A gente quase não percebe, mas as pontas dos nossos dedos são mais delicadas do que qualquer outra parte do corpo. Isso acontece porque ao longo dos anos, durante o processo evolutivo, elas foram sendo adaptadas para sentir a sensação do toque através das terminações nervosas. De acordo com especialistas, as mãos e os dedos humanos carregam uma alta concentração de células nervosas chamadas de nociceptores, que respondem a sinais liberados por células danificadas. Por conta disso, os machucados nessa área podem causar agonia intensa — quanto mais forte e mais rápido for o sinal enviado ao cérebro por meio dos nociceptores, mais rápida e intensa será a resposta — a dor. Que azar.
Os tão chatinhos cortes de papel acionam, principalmente, os nociceptores mecânicos, que detectam danos celulares causados por cortes e perfurações, em oposição aos danos causados por temperaturas extremas, por exemplo. É uma espécie de mecanismo de segurança. Em menor grau, os cortes de papel também podem ativar nociceptores que são sensíveis à irritantes químicos, como alvejantes usados para clarear o papel. Essas células nervosas também podem gerar sensações de coceira em torno do machucado.
(Fonte: Pexels)
Olhando de longe, o papel não parece ser um objeto cortante, certo? Temos a impressão de que as bordas de suas folhas são retas e suaves. Mas, microscopicamente, podemos perceber que as bordas do papel são parecidas com uma faquinha de serra — e quando entram em contato com as pontinhas sensíveis dos dedos, rasgam e dilaceram a pele, atingindo mais terminações nervosas em comparação com objetos cortantes mais precisos, por exemplo.
Outro motivo para essa dor incomodar tanto é a profundidade do machucado. Cortes mais fundos acionam os mecanismos de defesa do corpo, como a formação de crostas e a coagulação de sangue, que ajudam no processo de cicatrização do ferimento. Já o corte de papel é superficial e atinge apenas os nociceptores. Dessa forma, os mecanismos de defesa naturais do corpo demoram mais tempo para serem acionados, deixando as terminações nervosas expostas por mais tempo.
(Fonte: Shutterstock)
Acredite se quiser, ainda tem mais essa! De acordo com a revista Scientific American, existe um elemento psicológico muito forte nos cortezinhos de papel — a dor pode ser mais intensa simplesmente por ter sido causada por algo inofensivo e muito menor do que nós. E não é que nossa mente é nosso próprio inimigo mesmo?
Agora que você já sabe por que esses machucados causados por papéis incomodam tanto, vale a pena redobrar o cuidado ao ler um livro ou folhear uma revista. Caso aconteça, não se esqueça: curativo no dedo para não deixar as terminações nervosas, mais nervosas ainda.