Artes/cultura
12/04/2023 às 10:00•2 min de leitura
De acordo com um novo artigo publicado na revista Quaternary Science Reviews, pesquisadores descobriram evidências que humanos começaram a comer caracóis gigantes muito antes do que acreditávamos, com estudos anteriores apontando que a prática teria sido implementada regularmente no final da última Era do Gelo.
A nova descoberta de conchas quebradas em uma caverna sul-africana indicou sinais de que as estruturas foram aquecidas, provavelmente durante o cozimento. E enquanto evidências anteriores mostravam que nossos antepassados já se alimentavam dos moluscos há cerca de 49 mil anos na África e 36 mil anos na Europa, os novos indícios comprovam que a iguaria já era apreciada de 70 mil a 170 mil anos atrás.
(Fonte: Pixabay/Reprodução)
“A proteína gordurosa e fácil de comer dos caracóis teria sido um alimento importante para idosos e crianças pequenas, que são menos capazes de mastigar alimentos duros”, explicou Marine Wojcieszak, autora do estudo e parte do Instituto Real de Herança Cultural, em Bruxelas. Notícias.
Outro ponto interessante é que os cientistas acreditavam que esses invertebrados e outros animais pequenos só entraram como parte regular na dieta dos seres humanos no fim da última Era do Gelo, que ocorreu de 15 mil a 10 mil anos atrás. Porém, os achados na caverna possibilitaram mostrar que a humanidade já compreendia o valor nutricional das criaturas muito antes do que se supunha.
“Moluscos terrestres são uma excelente fonte de nutrientes. São fáceis e não perigosos de coletar, podem ser armazenados por algum tempo antes de serem consumidos, são simples de preparar e de digerir desde que se tenha um domínio básico do fogo”, afirmaram os autores em seu artigo.
(Fonte: Pixabay/Reprodução)
Para confirmar que as conchas não haviam sido queimadas acidentalmente por um incêndio, os pesquisadores aqueceram caracóis gigantes modernos em temperaturas e períodos de tempo variados, observando mudanças na coloração e equilíbrio químico, rachaduras e perda de peso.
Essas comparações, aliadas com o fato dos fragmentos terem sido encontrados junto a restos de sementes carbonizadas e ossos de animais, provaram que os moluscos foram mesmo cozidos intencionalmente.
(Fonte: Pixabay/Reprodução)
Ainda de acordo com a equipe do estudo, animais invertebrados representam mais de 95% da biodiversidade terrestre, porém, costumam ser negligenciados em trabalhos arqueológicos por serem vistos como sem importância na compreensão dos humanos antigos, além de seu tamanho e composição dificultarem encontrar evidências de sua presença a centenas de milhares de anos.
Porém, as conchas dos caracóis os tornam uma exceção a tal dificuldade, e a descoberta de que já eram uma parte crucial da alimentação da humanidade há tanto tempo também aponta para uma forma estruturada de dinâmica social, mostrando que, provavelmente, o comportamento cooperativo era algo inerente desde o início da nossa espécie.